A Blogueira Convidada dessa semana é minha amiga/companheira de playdates Fernanda Amaral do blog "
Os Novos Yorkinos".
A Fe passou por uma experiência muito interessante que foi voltar de "mala e cuia" para o Brasil, não se readaptar e decidir voltar "de mala e cuia" para NY de novo.
Aqui vai a estória nas próprias palavras da Fernanda.
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Uma Estranha no Ninho by Fernanda Amaral
Acho que todo brasileiro que mora aqui em NY (ou em qualquer outro canto do planeta), já teve que responder essa pergunta: “mas você volta?” e hoje em dia sem pestanejar eu respondo: “Não! Já voltei e não deu certo”.
Claro que cada experiência é individual e talvez se eu voltasse de novo, em outras circunstâncias de vida, eu tivesse outra impressão, mas tenho que admitir que voltar foi tão dificil (se não mais) quanto ter vindo, pela primeira vez, há quase dez anos, sem falar a língua, sem poder trabalhar, deixando para trás meu emprego, meus amigos e família e a cidade em que nasci e cresci. Voltar para seu país e ver que você não pertence por inteiro e que muitas vezes você não se sente em casa, foi muito, muito estranho, amendontrador e triste.
E não é que quando cheguei aqui, estava achando mil maravilhas não, como disse Caetano ‘narciso acha feio o que não é espelho’: eu chorava todos os dias por 6 meses. Chorava no meio da rua porque não conseguia entender nada; chorava dentro de casa porque queria ver minhas amigas ou xingava os quatro ventos por causa daquele maldito frio (dica #1: NUNCA mude para NY em janeiro). Mas aí o tempo foi passando, a cidade vai se enraizando dentro de você, voce vai curtindo tudo o que uma cultura diferente tem para te oferecer e eu era a “mais nova paulistana a curtir NY numa boa”. Fui fazer uma pós graduação; fiz amizade no parque de cachorros da minha vizinhança, curtia ‘Friends’ as quintas-feiras e nao tinha a mínima saudade das novelas da Globo; fiquei grávida, tive meu primeiro filho (de parto normal) e já me sentia como qualquer outra New Yorker, reclamando dos turistas em Times Square, ou daqueles que não sabem passar o metrocard na catraca do metrô.
Aí deu o “saracutico dos 5 anos”, como diz meu marido. Chega aquela hora que você começa a pensar que foi tudo muito bom, mas como criar o seu filho longe dos avós, dos primos, dos filhos dos seus amigos? Então ele foi convidado pra trabalhar em São Paulo, voltamos de mala e cuia em 2 meses, ele feliz da vida e eu esperançosa, mas meio pé atrás. E não rolou. Muitos foram os fatores, no meu caso:
Erro #1: compramos um apartamento (ao invés de alugar) e enquanto reformamos, ficamos nos meus sogros por quase 6 meses. For the record, eu amo meus sogros, como se fossem meus pais, nos damos SUPER bem, mas ir de um extremo de morar em outro hemisfério para estar na CASA dos caras com bebê de 8 meses? Preciso dizer mais?
Erro #2: achar que iríamos voltar para nossa vida de 5 anos atrás (não conscientemente é claro), mas tínhamos aquela ilusão de que íamos fazer churrasco todo final de semana, sair pra dançar no meio da semana, ou ligar no final da tarde pra qualquer amigo e fazer algo espontâneo, como bate-volta na praia. HELLO?? A vida de TODOS nós mudou: todo mundo cresceu, casou, teve filho, todo mundo tocou a vida, mesmo que não estivessemos aqui para acompanhar de perto o processo. Nossa volta também foi um pouco de luto da nossa vida de solteiros.
Erro#3: quando estamos longe o Brasil é super idealizado, tudo lá era uma delicia, a comida, todo mundo visitando, etc. Quando você volta (pelo menos pra São Paulo), você passa 1/3 do seu dia no trânsito, com medo de ser assaltado, quando chove ou tá frio não tem muitas opções pra levar seu filho, a não ser no shopping e o seu diploma da Columbia não adiantou de nada na hora de conseguir trabalho, já que ninguém mais te conhecia na área. OU seja: passar férias no Brasil não é a mesma coisa de que morar no Brasil (duh!).
Muito provavelmente se o meu marido não tivesse topado ser transferido de volta pro banco aqui em NY, nós tivéssemos nos readaptado, como muita gente que volta e adora ter voltado; iríamos curtir ter mais ajuda; eu ia amar depilação e manicure baratinhas ou talvez tivéssemos nos separado (ha!), who knows! Mas o que ficou disso para mim são duas certezas: nada é para sempre ou definitivo mesmo, e eu nunca mais vou me sentir 100% pertecendo a um lugar. Hoje em dia estou de bem com o fato de que eu sempre serei um pouco entrangeira no próprio ninho, tanto aqui quanto lá. "