A Blogueira Convidada dessa semana é Milena Borges dos blogs "
There is Always Room" e "
A Grande Maçã".
A Milena mora em NY há pouco mais de 2 anos e já se sente como uma imigrante, ou melhor, "de lugar nenhum".
Aqui, ela faz uma comparação bastante honesta, sob o ponto de vista de alguém que ainda não teve filhos, da forma como se sente "dividida" entre dois paises de duas culturas tão diferentes.
"
by Milena Borges
Cheguei aqui em NY há pouco mais de dois anos para fazer mestrado e pegar experiência de
trabalho no mercado “mundial” (aqui é tão misturado que nem podemos dizer simplesmente
mercado “americano”). Até bem pouco tempo eu ainda tinha na minha cabeça que era uma
turista, que poderia ir embora quando bem quisesse e tudo seria muito tranqüilo e fácil. Mas vi
não é bem assim...
Em visitas ao Brasil durante este último ano percebi que criei raízes aqui, que me acostumei com
hábitos que antes achava estranho e que não pertenço mais 100% nem lá, nem cá. Estava com
vários questionamentos e foi quando ouvi de um amigo argentino que mora no Brasil há anos:
- Esta é a vida de um imigrante. Sempre que estamos em um país morremos de saudades do
outro.
Nunca tinha me visto como uma imigrante antes, esta palavra parecia mais “pesada” do que eu
poderia agüentar, mas tenho que admitir que é assim que me sinto.
Eu não sou mãe (já falei com mães blogueiras em NY que vou ficar rica se começar a trabalhar
de baby sitter para todas aqui), então vou contar pra vocês aqui neste post o que acho legal ou
não nos dois países.
O que adoro nos EUA:
- Nos EUA a gente tem muito mais liberdade, e não só a liberdade de fazer o que bem quiser,
mas a liberdade de andar na rua sem medo, tirar uma soneca do parque, pegar metrô na
madrugada…
- A facilidade de conseguir um serviço ou comprar alguma coisa. O que você precisar vai achar
aqui, seja uma pessoa para te ensinar a falar um dialeto aborígine ou uma peça para sua
maquina de escrever de 1960 (ou mesmo uma máquina de escrever de 1960). É só buscar
no Google, Amazon ou craigslist.org que tenho certeza que vai aparecer. Aqui em NY nunca
procurei alguma coisa que não tenha achado.
- A cultura do “Faça Você mesmo”, desde pintar a casa até preparar a festa de aniversário das
crianças com tudo feito a mão.
- Diversidade cultural. Nas ruas, restaurantes, escolas, na moda e nos bairros (Little Italy, Little
Korea, Little Índia …)
- As quatro estações. Odeio o inverno, mas gosto de como nos programamos para as estações,
mudando os programas e o guarda roupa. E como no inverno é temporada da Ópera no
Metropolitan eu ate agüento as desvantagens.
O que não gosto nos EUA:
- A distância e solidão das pessoas. Americano parece que é obrigado a brigar com os pais
quando faz 18 anos. Sair de casa é questão obrigatória e morar em outra cidade parece o mais
certo a ser feito. Quando filhos ou pais vão se visitar tem que avisar com antecedência e são
tratados muitas vezes como visitas mesmo.
- O exagero nos descartáveis. É um exagero de lixo produzido e comer em prato de papel tira
o “glamour” de qualquer refeição. Mas o pior mesmo é a tal da faquinha de plástico. OMG, por
quê??
- O tanto de doido e gente escandalosa que existe em NY. Essa cidade já é caótica, suja e
complicada por si só, não preciso de ninguém gritando no meu ouvido que o fim está próximo ou
cantando Rap como se todo mundo em volta tivesse comprado ingresso para escutar.
- O preço dos serviços domésticos. Gostaria de ter uma faxineira daquelas bem profissionais,
mas a maioria que existe aqui cobra super caro somente para passar aspirador e tirar poeira das
estantes. Eu como sou obcecada por limpeza acabo sempre colocando a mão na massa, mas
confesso que não gosto nem um pouco.
O que adoro no Brasil:
- Minha família e amigos. Isto é o que mais pesa na minha balança “lá e cá”. Aliás, eu gosto
do jeito “íntimo” dos latinos, de se meter na vida alheia e chegar na sua casa sem avisar. Acho
divertido.
- Samba! Morro de saudade da música brasileira, das rodas de samba e de um churrasco com
música ao vivo. Não consigo viver de rock, gosto mesmo é de MPB e de música de raiz.
- O clima e a praia. Morro de saudade do calçadão, de viver no ar condicionado e de usar chinelo
o ano todo.
O que não gosto no Brasil:
- O preço das coisas por lá. Pra sair pra comer num restaurante legal, comprar uma roupa nova
ou conquistar o sonho da casa própria é preciso ganhar um dinheiro muito bom. E ganhar muito
bem também é uma tarefa difícil.
- Ao mesmo tempo não gosto como as pessoas parecem estar sempre competindo –
ou “Keeping up with the Joneses” como se diz aqui.. Tem que ter o carro do momento, babá,
empregada e secretária, óculos e bolsa de marca. As festas também são um exagero e ganha
quem der o maior banquete, seja no casamento ou na festa de primeiro ano dos filhos.
- Não sei como as outras pessoas se sentem, mas eu me sinto insegura em vários lugares.
Tenho medo de esperar dentro do carro e fico paranóica se estou sozinha à noite em algum
lugar. Esse sentimento de insegurança é uma droga e muitas vezes a gente nem se dá conta do
desgaste que é passar uma vida assim.
Bem, acho que é isso! Obrigada Paula, pelo convite e por mostrar dicas tão úteis e fofas aqui no
blog!"
|
Milena com sua sobrinha no Central Park |