Tuesday, August 24, 2010

Blogueira Convidada

A Blogueira Convidada dessa semana é Sut-Mie Guibert do blog Viajando com Pimpolhos.

Sui-Mie é francesa, filha de chinesa, casada com um brasileiro. Aqui ela conta um pouquinho do "outro lado da moeda" de como uma estrangeira se adapta a nossa cultura.

"O outro lado da história: o Brasil com um olhar francês by Sut-Mie

Quando a Paula me pediu para escrever em seu blog sobre esse assunto, fiquei bastante lisonjeada e com um frio na barriga! A responsabilidade é enorme, o NYwithkids em si já impõe respeito e quem segue e viu o nível das outras blogueiras convidadas, há de me entender! Mas ao mesmo tempo é um belo exemplo de troca cultural e digital, que hoje em dia, não deixa de ser uma nova cultura! Por isso topei na hora!

Para a historinha, eu sou francesa, nascida em Madagascar, de mãe chinesa e pai francês; morei em vários países desenvolvidos ou não, e passei uma parte da infância no Brasil, em Salvador, o que fez a diferença e me fez querer voltar após a faculdade. Por favor, não vamos fazer cálculos indiscretos, mas digamos que cheguei aqui aos 25 anos.

O intuito aqui é falar sobre as diferenças culturais, porque a Paula achou que eu fosse uma pessoa adequada para falar desse assunto. Mal sabe ela que eu sou a mais brasileira das francesas, ou a mais francesa das brasileiras! Em outras palavras: sou apaixonada pelo Brasil, por isso escolhi morar aqui, casei aqui e agora tenho uma filha brasileira! Ufa! Finalmente consegui dar um jeito e ter o Brasil no sangue, poder dizer que algo meu é realmente daqui!

Mas óbvio que além da paixão pelo país, as diferenças culturais existem, não seria a vida tão rica, pois as diferenças é que deixam tudo mais colorido, concordam? Imaginem se fossemos todos iguais? Ai, que tédio!

E é dessa forma que, às vezes, ainda me surpreendo aqui com a falta de pontualidade, com a falta de compromisso em certas situações, com a facilidade com a qual te mandam ligar e aparecer em casa...gente, eu sou literal (e nessas horas, francesa): se me disser para ligar ou aparecer, eu VOU aparecer! Pode me esperar! Nunca entendi porque me falam uma coisa se é para eu fazer o contrário? Então porque me falam isso? Bref. (expressão francesa = enfim...)
Além disso, nas coisas importantes, é obvio que fico muito chocada pela desigualdade, pela corrupção, pelas leis que servem mais para uns do que para outros...mesmo se sei que não é necessário ser estrangeira para ter esses sentimentos, e que a corrupção existe em qualquer lugar, mas na Europa, você se sente mais resguardado pelas leis, você denuncia, você vê colarinhos brancos caírem. Aqui, muitas vezes e infelizmente, as coisas acabam em pizza, como dizem!

No que diz respeito à maternidade especificamente, tive algumas surpresas, descobri acessórios que não existem na França, tipo “paninho de boca”, “de ombro”, toalhas fraldas (toalhas com um segundo pano por dentro, como uma fralda, para não “arranhar” a pele do recém nascido), cueiros e outras “cositchas mas”. E vou emitir agora uma opinião bastante pessoal, que, certamente, dará vazão a discussões, mas espero que entendam que não é um julgamento de valor, e sim, uma constatação feita por olhos estrangeiros, mas às vezes, penso que existe um certo exagero aqui: as crianças são super protegidas, consideradas frágeis, colocadas em pedestais. Durante a minha gravidez cheguei a pensar que era inexperiente, mas não incompetente ou incapaz, de tanto que todos davam pitacos, queriam ajudar na maior das boas intenções, porém a ponto de eu achar a coisa um pouco invasiva e que estavam me protegendo demais! É claro que o carinho, a atenção e o calor humano foram importantes nesse período e esse é um grande diferencial com a Europa, e é por isso que eu optei por morar aqui, mas o excesso, talvez cultural, acaba te limitando: “você não pode fazer isso”, “o bebê não pode fazer aquilo”...e, assim, vamos caminhando para a fragilidade.
E sinto isso até nas viagens, onde muitas vezes os pais acabam deixando de viajar porque acham que a criança não vai agüentar, não vai se adaptar, não vai comer, a mala para levar vai ser muito grande...(será que são as origens latinas melo dramáticas?!). Enfim... Daí a minha vontade de literalmente desdramatizar isso tudo e mostrar que é possível (e prazeroso!) viajar com crianças!
Tenho, assim, uma tendência a deixar tudo mais prático, e nessas horas, voltam as minhas origens francesas. Existe um lado europeu que eu gosto bastante, que é a “praticidade materna” de lá, com mil acessórios para facilitar a vida, até porque muitas vezes não têm empregada ou babá. Este fato tem conseqüências que eu enxergo como positivas, com pais mais envolvidos porque têm que ajudar e crianças mais independentes, que conseguem fazer várias coisas sozinhas. Claro que não concordo com eles a ponto de terem seus filhos fora de casa aos 16! Nessas horas, dou meia volta e prefiro me sentir mais “brasileira”, com sua cultura familiar e matriarcal!
Por isso é tão gostoso! No fundo, navego entre essas duas culturas, às vezes mais para lá, às vezes mais para cá, sabendo que sou, na verdade, uma privilegiada por ter diversas origens e poder transitar por elas, podendo assim buscar o melhor de cada uma! Porque não existe uma melhor do que a outra, e sim, cada uma com suas especificidades e vamos combinar que cada mãe sabe de sua família, não é mesmo?!

Hoje a minha grande preocupação é transmitir essa cultura e essa oportunidade para a minha filha: tento falar-lhe somente em francês (é super difícil se policiar em um país estrangeiro!), ler-lhe histórias, DVDs, CDs com músicas em francês. Ela entende tudo e fala um pouco, mas claro que se expressa muito melhor em português! Agora, só com tempo e persistência!

Obrigada pelo espaço Paula e espero não ter provocado nenhum choque cultural!"

19 comments:

Anonymous said...

é por essas e outras que eu ADORO essa moça do nome bonito!
e adorar sem conhecer é definitivamente um hábito brasileiro.
também concordo que somos privilegiadas por estarmos divididas entre os dois mundos, o de lá e o de cá.
viva a globalização e viva a mistura!
beijos na visita e na dona do blog!

Lia said...

AMEI o texto. Me identifiquei demais. Não tenho nada de europeia, mas concordo plenamente com o excesso de produção que os brasileiros colocam na maternidade. Tem que ter mil coisas, mil serviçais, mil cuidados. Parabéns à Sut-Mie, adorei ouvir a história dela!

Livia, mãe da Carol said...

Adorei o post! Com certeza a mistura de continentes que Sut-Mie 'carrega' no sangue faz dela uma pessoa com idéias e visões ímpares! Sou brasileira, nascida e criada no Brasil e depois de dois anos em NY, confesso que concordo com a Sut. A dependência de ajuda que nós brasileiros temos, muitas vezes é um exagero! Em contrapartida, nossa rica mistura de raças nos faz diferentes, alegres, tolerantes e calorosos! Viva as diferenças, sempre!

Coisas de mãe said...

Adorei! Legal nos ver por outros olhos. Qualidades e defeitos. Muito ganho no final. Mais uma ótima participação!

beijos Suit Mie, beijos Paula

Pati

http://coisasdemae.wordpress.com

Caryorker said...

Super concordo com você! Eu tive filho em NY e estou morando em Estocolmo, a familia do Brasil quase morreu quando eu disse que nao traria nada de comida especial para ele, e que ele teria que se adaptar a comida dos suecos... aqui todos os bebes sobrevivem, right? sao gordos e felizes, porque eu tenho que carregar latas de fórmula de outro continente? na na ni na nao! já que a minha vida vai ser um pouquinho em cada canto ele vai se adaptar a cada lugar... a familia do Brasil quase morre quando falo isso... drama latino... adoro!

Fernanda said...

Que demais esse post, Sut-Mie! Demais nos ver pelos olhos dos outros...
Eu adoro esse assunto do estrangeiro (nao eh a toa que sou psicanalista, neh?) e quao importante eh poder mostrar pros nossos filhos admirar o diferente? Mostrar que mesmo nao sendo parecido eh muito legal?

Parabens!

Beijos

Camila said...

AMEI esse post! Vc tem tanta razao e foi tao elegante em falar das coisas nao tao legais do nosso Brasilzao. Me encantou!

Camila Huertas

Alexandra Aranovich do Café Viagem said...

Sut
Concordo com muita coisa. A gente deveria ser mais eruopéia. Belo post. Parabéns.
Bjs
Alexandra - www.destemperadinhos.com

Alexandra Aranovich do Café Viagem said...

Sut
Concordo com muita coisa. A gente deveria ser mais eruopéia. Belo post. Parabéns.
Bjs
Alexandra - www.destemperadinhos.com

Viajando com Pimpolhos said...

Olá meninas,
Estava tão apreensiva com este post...Será que iam me entender, será que eu tinha me expressado direito? Que bom ver que fui compreendida e que justamente, as diferenças culturais e outras opiniões são aceitas.
Adorei esta participação e todos os comentários deixados.
Obrigada mais uma vez Paula!
Beijos (bem brasileiros e calorosos!)

said...

Muito legal o post, parabéns! Me identifiquei bastante pq sou brasileira, moro na França ha' 5 anos e tenho um filho de 1 ano, que nasceu aqui.

E' verdade que aqui na França o pessoal é mais "sossegado" com relação a filhos. Leva para passear, pra supermercado, pegam metrô, os filhos nao vivem numa redoma.

No Brasil é mais facil ter uma empregada ou baba' e confesso que as vezes sinto um pouco de falta dessa ajuda (nao da baba', mas de faxineira sim!). Mas no Brasil acho um pouco exagerado isso... Por exemplo, aqui muitas mulheres deixam os filhos com babas (quando nao conseguem vaga em creche, o que é o meu caso), mas so' durante o periodo em que estao trabalhando. A gente chega do trabalho e a baba' vai embora. Nao faz sentido ter baba' se vc esta' em casa para cuidar do filho... enquanto que no Brasil eu tenho um monte de amigas que tem baba' que MORA com elas!

Uma amiga minha comentou comigo que tem baba' até no sabado. Eu perguntei por que, pq realmente pra mim isso nao faz o menor sentido. Ela disse que se nao fosse assim, ela nao teria tempo para nada. Mas tempo pra que? Pra ir no supermercado? Fazer feira? Pq nao leva o filho junto?

Aqui o Rafael participa de tudo: passeamos em Paris, ele vai na feira e no supermercado todo sabado com o pai, como diz a minha mae, ele é o nosso Tamagoshi, carregamos ele pra todo canto e achamos isso otimo. Todo o nosso tempo fora do trabalho é dedicado ao nosso pequeno e adoramos isso.

Quero muito voltar a morar no Brasil, mas quero continuar a criar meu filho do jeito que criamos aqui.

Paty said...

Adorei o seu post, e a mistura de culturas super interessante ! com certeza, ter outro ponto de vista e fundamental! PARABENS! bjs

Nine said...

Adorei conhecer o Brasil com outros olhos! Obrigada Sut Mie!

Simone J. said...

E viva a mistura! Sou casada com um filho de japoneses (nissei) e noto algumas diferenças culturais, principalmente familiares. Acho que isso acrescenta bastante.

Não temos filhos ainda, e nunca tinha percebido que no Brasil existe este protecionismo com as crianças, me fez pensar... Por outro lado, acho que isso pode se originar justamente pela nossa descendência e colonização européia, da parte ITALIANA. O livro "Uma Educação à Italiana" retrata super bem tudo isso, que parece se aplicar ao Brasil de forma geral.

Mas enfim....post super interessante e construtivo, parabéns! E pretendemos continuar viajando após ter filhos, suas dicas serão de grande ajuda! ;-)

Paloma Varón said...

Fantástico o texto da Sut-Mie, só vi hoje!!
Concordo que aqui nós fragilizamos muito o bebê. Na primeira filha, fiquei insegura, tinha gente mandando até ferver água para dar banho. Agora, mna segunda, estou muito mais relaxada e, acreditem, maternidade assim é mais gostosa, mais prazerosa. E, quanto a viajar, já perdi os medos com a primeira mesmo.
Viva Sut-Mie, esta mãe multicultural, de mente aberta que estudou na mesma escola que eu em Salvador!
Beijos

Viajando com Pimpolhos said...

Parece tão incrível isso! Mas sim, a Paloma e eu estudamos na mesma escola em Salvador!! Como o mundo é tout petit!

Ana said...

ahhhhhhh...que querida a Sut Mie!!!
amo o blog dela,amo..ela passa uma enrgia mt boa,não sei explicar..é que eu sou mt ligada nessas coisas,na energia,na vibração das pessoas..e sinto isso dela!fiquei mt fleiz em saber mais um poquinho dela,da sua vida,de como ela encara as duas culturas..deve ser uma delicia e ao mesmo tmepo uma responsabilidade mt grande,pois crir um filho e ensinar a ter amor e respeito por duas nações e com duas linguas no meio ainda por cima..hehehe..
parabens para a SutMie,e para vc paula..por publicar esses post que aproxima a gnt cada vez mais uma das outras...tantas mães,tantas culturas,tantos lugares e paises..e todas queremos a mesma coisa: o melhor p nossos filhos..
amei o post,de coração!
;-)
bjs p todas!!!

DOIDINHA DA SILVA said...

Adorei ter vindo aqui....
Caí meio de paraquedas, mas pretendo voltar...

Nanda Chaves said...

Que legal esse blog! Amei Paula! Estou começando um agora, só para o universo infantil. Já tenho um (que é só sobre beleza, makes e etc) mas senti uma demanda muito grande por coisas de bebÊs, kids e tudo que involve essa maravilha que são os filhos. AInda não tenho nenhum, casei tem um ano, mas já estou me preparando...Enquanto isso vou trilhando o caminho, pelo meu blog. Se quiser passar lá, dar dicas, sugerir assuntos, quiser linkar, divulgar a lojinha, etc, fique super à vontade. bjus e parabéns pelo seu, está LINDO D +!
Nanda Chaves
www.desapegadinha.com.br

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