Eu sei que tenho falado muito desse assunto, mas é que tem feito parte do meu dia-a-dia 24hrs e preciso desabafar.
Hoje em dia são tantas as opções de ensino (ainda bem) que acaba que muitas vezes ficamos na dúvida de qual metodologia seguir.
Montessori x Construtivista x Antroposófica?
Racional e emocionalmente me atrai o ensino progressivo. Não acredito no método tradicional/cognitivo onde as crianças sentam, observam a professora, copiam no caderno e voltam para casa com kilos de lição de casa. Também me parece intuitivamente errado avaliar a todas as crianças da mesma forma e, com isso, incentivar a competitividade.
Acredito que cada criança tem seu próprio ritmo na cadeia do desenvolvimento e eu acho que isso deve ser respeitado. Acho indispensável encontrar uma escola que olhe para seu fílho como um indivíduo particular e não como um número. Que percebam que se ele gosta de música, deve ser incentivado nessa área, independentemente dos outros coleguinhas gostarem ou não. O mesmo serve para leitura, artes, esportes, etc. Cada um dentro dos seus próprios desafios e conquistas.
E não me venham com aquele "blá blá blá" de que o mundo lá fora não vai ter essa tolerância, que o mundo é cruel e competitivo. Eu sei disso e óbvio que quero que meus filhos saibam se virar no "mundo real". O lance é que a infância é um período muito importante e que vai moldar os alicerces para a vida adulta e esse período precisa sim ser respeitado e preservado.
Tendo dito, algumas considerações devem ser tratadas para que se entenda como funcionam as pré-escolas daqui:
1) começam a partir dos 3 anos. Se você precisar, por qualquer motivo, que seu filho vá para a escola antes disso, algumas oferecem um programa para crianças de 2 anos apenas 2 ou 3 vezes por semana;
2) algumas academias possuem o chamado "alternative preschool" onde você pode deixar o seu filho lá por 2-3 hrs fazendo atividades de artes ou esportes e depois ir buscar;
3) combinar os itens acima.
Aqui em casa nós optamos por combinar duas pré-escolas. Na verdade, a escola que escolhemos (Waldorf) só começa no ano que vem quando ela tiver 3 anos completos. Esse ano eles apenas possuem um programa chamado "parent and child" 1 vez por semana onde eu tenho que ficar junto. Resumo: não funciona como uma escola, mas funciona para eu conhecer mais a fundo a metodologia antroposófica que tanto me facina.
Portanto, tive que escolher outra pré-escola até que ela tivesse 3 anos completos e pudesse começar na Waldorf.
Assim, divido com vocês minhas primeiras impressões sobre as difereças entre o ensino tradicional e antroposófico.
Escola tradicional:
1) Disposição da sala de aula:
Várias estações de brinquedos espalhadas pela sala de aula. Tipo um circuito na aula de ginástica. A mesa do giz de cera, a mesa da massinha, a area dos blocos de madeira, a mesa do quebra-cabeça, a area da leitura e a area para pintura. As crianças ficam soltas circulando pelas diferentes "bases", sempre supervisionadas por uma professora (nos seus 20 anos) e 2 ajudantes (mesma faixa etária). Total: 12 crianças.
2) Nível de barulho e iluminação:
Varia entre alguma conversa baixa, gritos e choros. Muitas janelas na sala, mas também muita luz fria (aquelas de hospital).
3) Hora do lanche:
Na hora do "snack" todos lavam suas mãos na pia com sabonete comum (sempre com a ajuda de uma das professoras) e sentam-se nas cadeirinhas ao redor da mesa para comerem um biscoito de água e sal colocado em cima de um pedaço de papel toalha e tomar um copinho (plástico) com água da pia (aqui todo mundo toma água da pia, pois é considerada de ótima qualidade). Por alguma razão - acho que as tais alergias a comida que os americanos são neoróticos - ninguém traz lanche de casa. A escola fornece o "snack".
Ao final, as crianças jogam seus papéis sujos e copos no lixo.
4) Hora da historinha
As crianças sentam-se ao redor da professora para o "story time" onde ela lê um livro mostrando as figuras enquanto algumas crianças prestam atenção (outras tentam fazer outra coisa que consideram mais interessante, enquanto os ajudantes da professora ficam correndo atrás deles para que se sentem e prestem atenção).
Escola Waldorf:
1) Disposição da sala de aula
Um grande tapete redondo no centro da sala possui vários brinquedos (todos de madeira). Desde cozinha, varal, vassouras, panelinhas, até uma mini-ponte com escadinhas, um caixote grande para a criança se esconder dentro, vários pedaçaos de panos coloridos e outros objetos de madeira para usar de gangorra ou inventar algo. Supervisionados por uma professora (uns 60 anos) e dois ajudantes (em seus 20-30 anos). Total: 12 crianças.
2) Nível de barulho e iluminação:
Muito mais silencioso e calmo. Não me pergunte como nem porque, pois ainda não sei responder. A professora chefe circula pela sala de aula bordando. Hora conversa com algum dos pais. Hora aparta alguma disputa entre as crianças. Tudo em um tom de voz calmo, porém firme. Um choro ou outro, mas um ambiente calmo de um modo geral. Ambiente mais escuro, pois a iluminação é totalmente natural (não sei como seria em um dia de escuro e de chuva).
3) Hora do lanche:
Os 2 professores assistentes lavam as mãos das crianças (uma a uma) na prória sala de aula com uma jara de água em cima de uma bacia linda de ferro. O sabonete é em pedra. Provavelmente natural. A mão das crianças não toca a água suja da bacia. Ficam suspensas enquanto os professores ensaboam e depois enxaguam. As crianças se encantam com o ritual de lavar as mãos.
Agora, todas sentam-se ao redor da mesa. Cada lugar tem um mini jogo americano de tecido, um guardanado de pano, uma canequinha e uma cumbuquinha de porcelana. Nada de plástico ou descartável. Os professores juntos entonam uma música de agradecimento pelo "snack" que vão comer. Não há qualquer menção religosa. São oferecidas maças orgânicas (que foram fatiadas pelos professores assistentes e pelos pais que se voluntariaram, enquanto as crianças brincavam) e um mingau de aveia (também orgânico). A colher é de metal. Os professores assistentes tiram a mesa.
4) Hora da historinha
As crianças sentam-se ao redor do círculo. A professora conta uma estória fazendo gestos e mímica com as mãos. As crianças ficam hipnotizadas. Não há livros nem figuras. Apenas imaginação.
E tudo está apenas começando...."what a ride!"
Nota: com a colaboração da leitora Andrea Mero, incluo aqui o link para artigo publicado pela revista Isto é que explica, em linhas gerais, os diferentes modelos pedagógicos e o que se aplica para cada família.