O jornal NY Times publicou hoje um
artigo muito interessante sobre a evolução - se é que essa é a palavra correta - da situação das babás no Brasil (diga-se São Paulo).
De acordo com o jornalista Alexei Barrionuevo, as babás hoje em dia procuram, cada vez mais, trabalhar para famílias milionárias se tornando, desta forma, cada vez menos acessíveis para as famílias de classe média.
Um exemplo disso é a babá Andreia Soares que com o dinheiro economizado de seu salário de $3,100 já comprou um apartamento de 2 quartos com cozinha em acabamento de granito e varanda, um pedaço de tarra para o irmão e uma bolsa Louis Vuitton que ela orgulhosamente exibe dentro de seu armário. Além disso, ela pretende comprar até o final do ano um carro, a vista, no valor de $39,000.
Tal mudança, que tem ocorrido de uma forma assustadoramente rápida, não tem apenas criado tensão entre classes sociais, mas também apresentando um problema para toda uma classe trabalhadora de mulheres de classe média que precisam sair para trabalhar e não possuem um sistema de creche ("day care") a disposição como vemos em tantos outros países industrializados.
Acabaram-se os dias em que as babás vestidas de branco trabalhavam por um salário miserável folgando apenas 2 dias a cada 15 dias. Além disso, um número crescente se recusa a dormir ou procura outro mercado de trabalho que oferece uma melhor qualidade de vida.
Aquelas que podem, estão se qualificando cada vez mais. Cursos de enfermagem e até inglês. Essas babás chegam a ganhar uma média de $3,100/mês, um salário altíssimo principalmente se comparado a de um professor de ensino fundamental que ganha R$930 reais/mês.
De acordo com o economista Marcelo Neri, a receita de um trabalhador doméstico brasileiro, incluindo babás e empregadas, cresceu 34% de 2003 a 2009 - mais que duas vezes a média de todos os trabalhadores assalariados brasileiros e, ao mesmo tempo, as horas trabalhadas diminuíram em 5% passando a 36.2 horas semanais. A alta expectativa de salário dessas babás reflete o crescimento de 55% da classe média brasileira em 2010 comparado a 37% em 2003.
Enquanto algumas mães acreditam que essas mudanças são positivas para o desenvolvimento do Brasil, como a advogada Fernanda Parodi que diz "se o Brasil pretende crescer e deixar de ser um país de terceiro mundo, então tem que permitir que todos participem deste crescimento. Esse é o preço que se paga para o desenvolvimento". Outras se encontram sem opção, tendo que muitas vezes deixar a carreira de lado ou partir para a mão de obra Peruana ou Paraguaya que parece estar sendo uma forte tendência no mercado de babás de São Paulo.
Outro ponto curioso é que as babás bem empregadas que ganham em média $4,300, contratam babás menos qualificadas e mais baratas ($900) para cuidar dos próprios filhos criando-se assim uma pirâmide social dentro da classe de babás.
A "guerra" está formada. De um lado as babás exigindo valores exorbitantes para a grande maioria de uma classe média que a poucos anos atrás poderia se dar ao luxo de dispor desse tipo de serviço e, de outro, os pais tentando a qualquer custo conter a inflação dos salários das babás.
De acordo com Marília Toledo da agencia Masa, um dos pedidos principais hoje em dia para se obter uma babá em sua agência é que ela não tenha trabalhado no mercado de São Paulo, pois seriam mais "humildes".
De qualquer forma, os economistas são céticos a respeito da duração dessa revolução de classes. Conforme Rodrigo Constantino, economista da Graphus Capital, a falta de investimento na educação vai impedir que muitas dessas babás consigam um emprego melhor:" O Brazil está surfando uma onda e cada classe social está subindo um degrau. O problema é como esse fenômeno irá se sustentar".
A meu ver, apesar de haver de fato um crescimento econômico significativo e os pobres ou classe média baixa terem realmente subido um degrau na escada social, assim como os ricos terem ficado ainda mais ricos, existe ai uma classe média formada por professores, jornalistas, artistas e outros profissionais liberais que não tiverem a mesma representação de aumento salarial.
Isso significa que pessoas que a alguns anos atrás poderiam pagar uma babá para poder trabalhar, agora encontram-se em uma situação difícil. Algo similar com o que ocorre nos USA. Muitas mulheres colocam a carreira "on hold" para cuidar dos filhos por alguns anos, pois o valor da mão de obra e das creches pode ser mais alto que o próprio salário delas.
A diferença é que o mercado americano absorve esse tipo de trabalhadora. Fato que ainda não ocorre no Brasil.
Acredito que a escassez da mão-de-obra doméstica no Brasil não acabe de uma hora para outra, justamente pelo ponto levantado pelos economistas: não há incentivo na educação. Essas babás, muitas vezes, não tem opção de conseguirem outro tipo de emprego por falta de qualificação.
Sem dúvida haverá, como já existe, classes sociais dentro da classe das babás. Aquelas mais qualificadas que trabalham para os milionários e aquelas menos que trabalharam para essas babás e para a outra porção da classe média estudada.
O melhor seria se o governo e a iniciativa privada se dedicassem mais a educação, incluindo creches, para que as mães pudessem voltar ao trabalho, sem ter que depender de uma mão-de-obra outrora quase escrava.